domingo, 25 de março de 2007

O krill e o Ano Polar Internacional

(foto: Paula Debiasi, 2006)
O Ano Polar Internacional (API), lançado oficialmente no dia primeiro de março, é um extenso programa científico, organizado pelo Conselho Internacional de Ciências (ICSU) e a Organização Meteorológica Mundial (WMO), com enfoque na pesquisa sobre a Antártica e o Ártico. Milhares de cientistas de mais de 60 países passarão os próximos 2 anos estudando temas biológicos, físicos e sociais com impacto em ambas as regiões polares.

O Ano Polar Internacional fornece uma oportunidade muito excitante para apresentar um amplo espectro de projetos científicos, esforços globais de educação sobre as regiões polares e outras iniciativas para elevar a consciência ambiental e científica da população, envolvendo uma grande variedade de temas de pesquisa.

"A pesquisa sobre o krill antártico precisa ser um componente importante dos projetos do API", afirma Clifton Curtis, diretor do Projeto de Conservação do Krill Antártico (AKCP). Esse animal tem um papel central no ecossistema marinho antártico. Embora ele seja menor que um camarão, o krill exerce uma função primordial no Oceano Austral, onde centenas de espécies, incluindo focas, pingüins, albatrozes, petréis e baleias, dependem dele para sobrevivência. Para o geógrafo Ulisses Bremer, da UFRGS, "o krill é o 'arroz com feijão' do oceano Austral, remover esse elo vital significa levar toda a cadeia alimentar ao colapso nos mares antárticos".

Ainda não há sobrepesca do krill na Antártica, mas sinais incômodos surgem no horizonte. A sobreexplotação, o aquecimento global e outras mudanças relacionadas aos ecossistemas da região ameaçam o futuro do krill e de seus predadores. O Ano Polar Internacional oferece incontáveis oportunidades para assegurar que abundantes quantidades de krill continuarão parte do cenário antártico por um futuro longínquo.

Sobre o Ano Polar Internacional, visite www.ipy.org.
Para maiores informações sobre o krill, pressões sobre a abundância de krill e reformas necessárias nas leis internacionais, veja
www.krillcount.org.

Contatos com a Imprensa:
AKCP Brasil - Ricardo BRAGA (burgobraga@gmail.com)
NAT Brasil - Silviene Puccinelli (imprensa@natbrasil.org.br)

sábado, 17 de março de 2007

Família antártica e o krill naturalmente processado


Pingüins antárticos (Pygoscelis antarctica) da ponta Telefon, ilha King George, sob uma daquelas chuvas que aceleram o derretimento da neve na Antártica marítima. Essas chuvas também lavam as rochas, transportando os dejetos dos pingüins para os locais mais baixos no terreno das pingüineiras, e indo o restante até o mar. Produzido pelos pingüins ao digerirem krill e outras presas, esse guano (o material avermelhado e branco, parecendo lama, na foto) é muito importante para os solos antárticos, pois ele é o fertilizante natural que possibilitará aos locais de ninhais abandonados serem colonizados pela vegetação. [foto: U.F. Bremer, 2004]

terça-feira, 13 de março de 2007

Albatrozes na convergência antártica

Fáceis de avistar, pois seguem de perto os navios, os albatrozes Diomedea melanophris (em inglês: black-browed albratoss; em espanhol: albatroz de ceja negra) atingem cerca de 80 cm de comprimento e entre 1,95 m e 2,03 m de envergadura, sem dimorfismo sexual. Ocasionalmente são vistos semi-submersos, buscando presas próximas da subsuperfície oceânica como o krill, lulas e pequenos peixes. [foto: U.F. Bremer, 1995]

Pondo regras para captura de krill: a CCAMLR

O continente antártico está rodeado pelo Oceano Austral, por sua vez delimitado pela Convergência Antártica (conhecida também como Zona Frontal Antártica ou Frente Polar). Formada pela confluência das correntes geladas do oceano antártico e as águas temperadas dos oceanos ao norte, tal convergência atua como uma barreira biológica fazendo do Oceano Austral um ecossistema quase fechado.

A Convenção para a Conservação dos Recursos Vivos Marinhos Antárticos - CCAMLR (sigla em inglês, pronuncia-se ‘camelar’) - entrou em vigor em 1982 como parte do Sistema do Tratado Antártico, em conformidade com as disposições do artigo IX do Tratado.

Em seu establecimento pautou-se pela necessidade de considerar as graves conseqüências do aumento das capturas de krill no Oceano Austral nas próprias populações de krill e na fauna marinha, especialmente as aves, focas e peixes que dependem em grande parte do krill para sua subsistência.

Embora o objetivo da Convenção seja a conservação da vida marinha do Oceano Austral, ela não exclui a possibilidade de sua explotação, desde que esta se realize de maneira racional.

Atingir este objetivo não é algo simples pois requer a recompilação de um grande volume de informações e a formulação de técnicas científicas e analíticas adequadas.

Se estableceu um critério ‘precautório’ para minimizar o risco associado às práticas insustentáveis em condições de incerteza.

Este enfoque se complementa com o ‘enfoque ecossistêmico’ que considera as interações ecológicas entre as espécies e a variabilidade ‘natural’, diferente da variabilidade ‘induzida pelo ser humano’.

Por último, as medidas de conservação adotadas pela CCAMLR se baseiam na assessoria científica disponível e o seu cumprimento determina o grau de sua eficácia.

Na medida em que os recursos adquirem maior importância econômica, a tentação de ignorar as medidas de conservação e regulamentação aumenta, com a conseqüente ‘pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (IUU)’.

A imensidão do Oceano Austral, somada às condições inóspitas de seu entorno, obstaculizam sobremaneira a aplicação e o controle das medidas da CCAMLR para combater la pesca IUU por parte de seus países membros.

A Convenção estabeleceu uma Comissão encarregada da gestão dos recursos vivos marinhos em sua área de aplicação.

Estes recursos não incluem as focas nem os cetáceos, já que sua proteção está regulamentada por outros acordos, em particular, a Convenção Internacional para a Regulamentação da Caça de Baleias e a Convenção para a Conservação das Focas Antárticas.

Não obstante, a Comissão trabalha em plena cooperação com os órgãos encarregados de aplicar estes acordos.

A Comissão conta com vários instrumentos, a saber:

- um Comitê Científico encarregado de prestar assessoramento,
- reuniões ordinárias,
- uma Secretaria que presta apoio administrativo; e
- um orçamento anual.

Todos os membros da Comissão participam da pesca ou de pesquisas científicas no Oceano Austral. A Comissão e o Comitê Científico coordenam e regulamentam estas atividades para que os membros possam cumprir com suas obrigações dispostas pela Convenção.

(Fonte deste texto: www.ccamlr.org - versões originais em espanhol, francês, inglês e russo. Traduzida por U.F. Bremer)

Krill antártico na Filatelia

Ilustração de S. Malecki para um selo polonês, representando o krill e, em segundo plano, plankton do oceano antártico.
O navio que ilustra o plano superior do selo, é o M/S Antoni Garnuszewski, utilizado para pesquisa oceanográfica e apoio logístico nas Expedições Antárticas Polonesas de 1977/78, 1978/79 e 1988/89.

domingo, 11 de março de 2007

Krill, que bicho é esse?

Krill é um termo usado para descrever mais de 80 espécies de crustáceos de mar aberto, da família dos eufausídeos (Euphausiidae). O krill antártico é parecido com um pequeno camarão de aparência translúcida e carapaça avermelhada, com grandes olhos pretos. Estamos falando, principalmente, do Euphausia superba, que pouco ultrapassa os 6 cm quando adulto e pesa cerca de 2 g. Alguém poderia achar que tal animal teria pouco significado. Mas sua opinião certamente mudaria ao saber que em 1 m cúbico podem caber cerca de 30 mil deles, que eles vivem em gigantescas aglomerações de milhões de indivíduos, e que são fundamentais na cadeia alimentar no oceano Austral e para os animais que migram para a Antártica no verão do hemisfério Sul.
(ilustração: U.F. Bremer - "arte" sobre recorte fotográfico extraído do livro
Ecologia, de S. Pollock, 1994 - editora Globo, SP.)